sábado, 18 de agosto de 2012

XCIV

Eu não sei em que altura perdi a minha identidade, não sei definir um tempo ou lugar concreto, mas sinto falta, sinto falta do sorriso constante e de me ver de novo a cor de rosa e azul bebé, em vez de tomar partido do cinzento. A ingenuidade das coisas faz-me falta, o meu olhar sobre os sonhos, sobre a vida, aquela esperança que alguns lhe chamam fé, talvez nem era esperança, talvez fosse só gosto de viver, de olhar o amor com olhos de ver e não sentir que foi apenas algo inventado para nos fazer sentir bem à medida que crescemos, é que convenhamos, haverá realmente gente mais feliz com o amor do que triste com ele na idade adulta? No fundo esta pergunta não passa de merda dita da boca para fora, porque eu no fundo quero acreditar que sim. Sinto falta de gostar daquela música. O meu gosto musical mudou, costumo achar que faz parte da evolução do Ser Humano, tal como aprendemos a gostar de café, de bebidas alcoólicas, de fumar - não é que beber álcool e fumar seja necessariamente um boa evolução, mas também o gosto musical pode não o ser. O que quero dizer é que eu também sinto falta de ouvir o Pop e o R&B, eu mamava tudo o que era Pop e R&B, desde Beyoncé, Ne-yo, Rihanna e incrivelmente, se eu comparar o que ouvia antes ao que ouço hoje, nota-se uma clara diferença de vozes, letras e ritmos. O que é certo é que quando ouvia Ne-yo e Beyoncé eu era realmente feliz, sinto falta sim de gostar de música, tola, insignificante e que nada tem para dar. Eu não me perdi totalmente, sei onde estou e de onde vim, só não faço puto de ideia onde é que vou, sim eu sei, eu sei, não posso ter respostas para tudo, mas é que se não gosto de como estou tornasse complicado olhar com a visão optimista que antes tinha às toneladas. Embora sempre tivesse sido a pessoa mais insegura do Mundo, garantidamente, nunca ninguém o diria.  Quanto ao sentir falta de pessoas, eu nunca as tive realmente, embora sempre tivesse estado rodeada delas a toda a hora; pelo bom humor, pelas palhaçadas que sempre soube tão bem fazer para me divertir e fazer os outros rir. Eu gostava da diversão, não é que eu não goste hoje em dia, mas já não me divirto só por fazer tontices, é preciso mais. Pessoas. Chegam, sugam e partem. Nunca tive muita dificuldade em deixar quem quer que fosse para trás, faço-o sem remorso algum porque além de acabar por ser algo recíproco é com a plena consciência de quando estive ao lado delas estive a todo o gás mas enfim é o que fazemos, sugar, e eu sempre aceitei isso e nunca me permito a ter que precisar de alguém para o que quer que seja, não há nada que alguém me possa dar que eu não possa dar a mim mesma - e como era bom que isto fosse realmente e literalmente verdade. Eu não queria achar isto, mas a verdade é que uma vez que chegamos a um determinado patamar - que eu não sei definir qual é - não há retorno possível; é como perder a juventude e saltar para a idade adulta, não há um retorno depois de alcançarmos essa meta - e não, não é a que desejamos.

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