sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Óh moço!

Olha, nós não nos conhecemos, mas eu vejo-te passar pelo mesmo lado do passeio todos os dias e sempre a mesma hora. E sempre com a mesma cara. Daqui da janela, vejo-te com esse casaco branco, sempre de calças de ganga, esses ténis todos sujos que nem brancos já são, um Correio da Manhã por baixo do braço e uma lancheira. Sim, eu sei que não nos conhecemos, mas eu vejo nos teus olhos que as coisas não correm muito bem na tua vida. Não que eu queira intrometer-me. Eu só queria aquecer um bocadinho o teu coração que parece tão frio. Vejo-te a caminhar nessa solidão bizarra e pergunto-me se não há sequer uma companhia para ti. Nem um guarda-chuva?

Lá vais tu com a tua lancheira e esse jornal amassado, com as calças mal passadas e os ténis porcos como tudo. Segues sempre a mesma direção. Olha, cuidado ao atravessar a rua. O trânsito não está para brincadeiras e bem sabes como é a correria ás 8 da manhã. Tu nem sequer olhas para os lados! Tu tens é sorte moço de nenhum louco ter-te atropelado; rasgado esse teu jornal e esburrachado esse teu almoço.

A partir daí eu não vejo mais. Só no dia seguinte. Eu não sei por onde tu voltas, mas tem cuidado com a noite da cidade! As pessoas estão a dar em malucas por aí e a descarregar em toda agente, sim? É que mesmo e a sério! Eu vou deixar este papel no chão moço, colado ao poste cinzento que tu quase sempre te esbarras, só para não encostares-te a ninguém na rua. Espero que notes algo diferente no teu caminho. Espero que alguém ponha mais cor nessa tua vida. Sorri mais. Responde os bons dias desejados a ti, sim? Daqui vejo-te carente e ninguém segue sozinho, sim? Mas mesmo sem te conhecer, entende que não estás sozinho. Daqui eu olho por ti. Todos os dias. E fico a torcer para que chegues do outro lado da rua sã e salvo na esperança do dia seguinte ver-te sorrir.

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